Os africanos nao tem nenhuma necessidade de copiar as instituições liberais do Ocidente para conciliar a estabilidade e a equidade. Entretanto, eles devem adquirir a capacidade de defender os seus direitos, inclusive contra os seus governos, e dotarem‑se das organizações necessárias para travar este combate. Os dirigentes tendem invariavelmente a sucumbir a arbitrariedade, quando nao existe contra‑poder organizado capaz de opor‑se aos seus excessos. O deficit de competências é uma das causas da violação permanente dos direitos humanos em Africa.
A Partilha de África
Entre os séculos VII e VIII, o norte da África foi conquistado pelos povos árabes que propagaram o islamismo na região. Isso explica o domínio da língua árabe e da religião muçulmana nesta porção sobresaariana do território e parte da subsaariana, já que o deserto era atravessado por caravanas que transportavam marfim, ouro e escravos até os reinos sudaneses. Hoje, a região do Sahel (envolve os países: Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Mali, Níger, Chade, Sudão, Djibuti, Somália e Etiópia) apresentam população entre 50 e 90% muçulmana.
A África chamada de não-árabe passou a ser designada de “África Negra” ou Subsaariana com tráfico de escravos inicialmente conduzido pelos árabes, mas desde o século XV a África passou a ser subjugada pelos europeus. Por quase quatro séculos, Portugal, Espanha e Inglaterra levaram para o continente americano mão-de-obra escrava capturada na África (calcula-se 12,5 milhões de africanos, sendo 4 a 5 milhões no Brasil).
A disputa pelos territórios africanos acirrou as desavenças entre as potências. Para resolver o impasse, os países envolvidos realizaram a Conferência de Berlim, entre 1884 e 1885. O encontro definiu a partilha do continente entre as principais nações europeias, criando fronteiras artificiais, sem levar em conta os territórios das etnias nativas. Apenas a Libéria – nação formada por escravos e ex-escravos norte-americanos – e a Etiópia mantiveram-se independentes.
Esquecida pela Globalização e imensa em pobreza, fome, doenças e conflitos, a África é rica em recursos naturais cobiçados por regiões mais prosperas.
Na primeira década do século XXI, dados sobre o continente africano mostram uma pequena melhora em relação aos indicadores das décadas anteriores. Diante de seus baixos índices econômicos e sociais, há quem possa afirmar que seria impossível piorar: isso, infelizmente, não é verdade.
De 2000 a 2006, houve um aumento médio de 2% no PIB per capita (Produto Interno Bruto por habitante), contra o decréscimo de 0,7% na década anterior. Dados por habitante têm a limitação de estabelecer uma média inexistente na realidade, pois ignora as diferenças de riqueza entre as várias camadas da sociedade. Mas mesmo os índices de desenvolvimento humano (IDH) dos países africanos, nos quais se consideram dados sobre renda, saúde e educação, mostram sucessivas elevações, embora ainda sejam os mais baixos do planeta.
Entre os principais responsáveis pelo crescimento econômico estão os países exportadores de petróleo – Angola, Camarões, Chade, os dois Congos, Guiné Equatorial, Gabão e Nigéria – e de minérios estratégicos. Entretanto, mesmo entre outros países da África Subsaariana, registrou-se melhoria no desempenho da economia no último período, especialmente pela alta no preço de produtos agrícolas (commodities). Há evidências de que o progresso beneficie sobretudo uma elite, pois há um aumento da desigualdade de renda nesses países: em 1975, os 10% mais ricos da população subsaariana recebiam 10,5 vezes mais que os 10% mais pobres; em 2005, essa relação cresceu para 18,5 vezes.
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